Falta preparo e investimento

Tornados no Estado são mais comuns do que se imagina, afirma meteorologista da UFSM

Igor Müller

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Tornados como o que atingiu a localidade de Azevedo Sodré, no interior de São Gabriel, são mais comuns do que se pode imaginar. O professor do curso de Meteorologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenador do Grupo de Modelagem Atmosférica (GruMA) Vagner Anabor explica que o Rio Grande do Sul e demais territórios que compreendem a Bacia do Prata, fazem parte da segunda área mais propensa para formação de eventos de tempo severo - como tornados - das Américas. Perdemos, apenas, para a região central dos Estados Unidos.

No caso do Rio Grande do Sul e regiões oeste de Santa Catarina e Paraná, estes fenômenos tendem a ocorrer em áreas pouco povoadas e, por isso, até pouco tempo atrás não chegavam ao conhecimento da maioria das pessoas. Com as novas tecnologias de informação, porém, as notícias deste tipo de ocorrência se espalham mais rápido.

Além de tornados, os estragos causados por granizos, rajadas de vento forte e chuva intensa são ocorrências de tempo severo que (infelizmente) estamos mais familiarizados. As condições para a ocorrência destes fenômenos dependem de uma série de fatores mas, na grande maioria, tendem a ocorrer nos períodos de transição entre uma estação e outra.

Para a formação de um tornado, é necessário o encontro de massas de ar favoráveis às rotaçãos com uma superfície com excesso de calor. É comum, na nossa região, recebermos correntes de ar quente e úmido vindos da região amazônica. Estas correntes de ar, quando entram em contato com a superfície, liberam uma energia muito forte, formando o tornado.
_ É como se abríssemos a tampa de uma garrafa de refrigente depois de saucidí-la. Se abrirmos rápido, o líquido gaseificado explode. Se liberarmos o gás aos poucos, não, explica o professor.

Após analisar o vídeo, o professor acredita que o tornado seja de escala pequena (escala F1). Neste caso, as rajadas de vento podem atingir uma velocidade acima de 100 Km/h. Intensidade suficiente para arrancar uma casa de madeira, por exemplo.

Estamos despreparados

Apesar das características climáticas que favorecem a formação de eventos de tempo severo, o Rio Grande do Sul não tem radares meteorológicos que possam prever (e antever) a formação de fenômenos como tornados.

O professor Vagner Anabor, do curso de Meteorologia da UFSM, lamenta a falta de investimento do Estado nesta questão.
_ Falta monitoramento e profissionais que foquem na ocrrência deste tipo de fenômenos, alerta Anabor.

O Observatório Estadual, fica na sede da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), em Porto Alegre. O serviço prestado pelo meteorologista do observatório, porém, tem um foco na agricultura.

Não há, por exemplo, nenhum serviço semelhante atrelado a Defesa Civil Estadual para prever onde e quando a formação de um fenômeno meteorológico poderá causar estragos ou por a vida de pessoas em risco.

Segundo o professor, uma rede de pelo menos quatro radares espalhados em pontos-chave do Estado poderiam dizer com precisão de local e antever com até 30 minutos de antecedência a ocorrência de tornados, por exemplo. Ao contrário de outros estados como Santa Catarina e Paraná, o Rio Grande do Sul não recebe investimentos nesta área.
_ Chega a ser uma irônia. A UFSM forma meteorologistas que acabam ocupando vagas de trabalho em centros como São Paulo e Amazônia, mas não encontra onde atuar no Estado, argumenta Anabor.